Sua visão futurista, sua ousadia, sua imaginação criativa e indômita e seu patriotismo o transformaram no reformulador do paisagismo brasileiro - Rômulo Cavalcanti Braga
wiki/File:Burle_marx1.jpg A história do paisagismo brasileiro, a partir de 1930, está intrinsecamente ligada à obra mundialmente famosa de Roberto Burle Marx. É um dos brasileiros mais consagrados no exterior em todos os tempos. Quarto filho do alemão Wilhelm Marx com a pernambucana Cecília Burle, Roberto nasceu em São Paulo, em 1909, mas ainda nem havia ido para a escola quando a família se mudou para o Rio de Janeiro. Na casa ao pé do morro da Babilônia, perto do mar, ele começa a cuidar de seus primeiros canteiros, motivado pela mãe que cultivava um jardim de estilo europeu, e pelo pai, que assinava revistas estrangeiras de jardinagem. Aos 19 anos, viaja para a Alemanha para se aperfeiçoar como desenhista. Lá, casualmente, descobre a beleza das plantas tropicais, numa visita ao Jardim Botânico de Dahlen.
wiki/Category:Roberto_Burle_Marx
De volta ao Brasil, Burle Marx começa a cultivar colecionar e classificar plantas num jardim na encosta do morro, atrás de sua casa. Seu primeiro trabalho como paisagista é feito a pedido do arquiteto e amigo Lúcio Costa, no início dos anos 30.
Burle Marx projeta um jardim revolucionário, usando plantas tropicais e a estética da pintura abstrata. O começo é difícil. Os jardins brasileiros obedecem ao modelo europeu: predominam azaléias, camélias, magnólias e nogueiras. A elite conservadora da época estranha o estilo abstrato e tropical de Burle Marx. Mas a renovação nas artes e na arquitetura é uma tendência mundial e irresistível para o conservadorismo da época. Burle Marx torna-se adepto da escola alemã Bauhaus, com seu estilo humanista e integrador de todas as artes.
No Brasil, um grupo de jovens arquitetos, profundamente influenciados pela c orrente francesa liderada por Le Corbusier, revoluciona a arquitetura. Entre eles, Oscar Niemayer e Lúcio Costa. A moderna arquitetura brasileira usa novos materiais. Aço, vidro e concreto pedem um paisagismo renovador. A associação entre Burle Marx, Niemayer e Lúcio Costa não pára mais.
By Michel Temer - 16-10-2015 Palácio do Jaburu, CC BY 2.0, w/index.php?curid=45100436
Profundo admirador e apaixonado pela flora brasileira Burle Marx, realiza incontáveis incursões por todo país a procura de exemplares raros e exóticos. Encontra nas Bromélias um sentido inovador e revolucionário para dar asas a sua imaginação criativa e indômita. Em Brasília, assinou os projetos das áreas verdes do Plano Piloto e inovou ao usar o Buriti, uma espécie de palmeira, em espaços urbanos.
Pouco a pouco, através de estudos aliados a prática, torna-se botânico autodidata, especialista em plantas tropicais. Faz de sua relação com a natureza uma prática monástica. Sua reverência a flora torna-o pioneiro na luta pela preservação do meio ambiente. Burle Marx levou para o paisagismo o ideário da arte e arquitetura modernas. Rejeitou as flores exóticas com que o país compunha seus jardins públicos e particulares e trouxe para as praças a antes desprezada vegetação nativa. Compôs jardins como quem cria obras de arte. Pensou na topografia, no meio ambiente, na arquitetura e na plasticidade para projetar jardins e praças no Brasil e em mais de vinte países.
wiki/Category:Roberto_Burle_Marx#/media/File:Detalhes_do_Muro_decorado_da_Casa_da_Avenida_Paulista_-_Sao_Paulo_SP_-_panoramio.jpg
Burle Marx foi o paisagista que descobriu a riqueza da flora nativa do Brasil. Amante da natureza, chegou a catalogar 46 novas plantas e emprestou seu nome para várias espécies. Ao criar o projeto de paisagismo da Praça dos Cristais, Burle Marx utilizou 53 tipos de plantas, muitas delas não nativas do cerrado. Algumas não se adaptaram ao clima de Brasília e não sobreviveram. Outras resistiram e estão lá até hoje. Um exemplo é o Buriti de aproximadamente 12m que se encontra no local há 38 anos.
O homem de cabelos e bigodes brancos já havia passado dos 70 anos quando decidiu coordenar uma expedição científica à Amazônia. Botânicos, arquitetos paisagistas e fotógrafos percorreram mais de 10 mil quilômetros em 53 dias de exaustiva rotina de observação, coleta de espécies, documentação, catalogação e embalagem de plantas vivas, como relata Vera Beatriz Siqueira em Burle Marx, da editora Cosac Naify.
wiki/Category:Roberto_Burle_Marx#/media/File:Itamaraty_Palace_interior_room_12.jpg
O mesmo desbravador de florestas que se apossou do espírito dos viajantes europeus dos séculos passados era um paisagista que, na prancheta, desenhava projetos que ainda no papel já eram uma obra de arte. Apesar disso, "o desenho jamais determinou o destino do jardim, que o paisagista sabia ser imprevisível e instável", como escreve Vera Siqueira.
Quando a pintora modernista Tarsila do Amaral conheceu as praças de Roberto Burle Marx (1909 / 1994), logo o chamou de Poeta dos Jardins. E, assim, sintetizou uma das grandezas do paisagista: projetar jardins como quem pinta um quadro. Ele reunia plantas e flores com cores, texturas e formatos complementares, entremeadas a painéis e esculturas, transformando a paisagem numa obra de arte. A busca pelo aspecto pictórico nas composições era uma das prioridades de Burle Marx, assim como a utilização de espécies nacionais, aponta Haruyoshi Ono, paisagista e diretor do escritório Burle Marx & Cia.
Convidamos você para o próximo artigo onde serão abordadas alguns projetos de Burle Marx, não deixe de ler.
Rômulo Cavalcanti Braga é paisagista Contato: romulocbraga@uol.com.br
Dê um clique no banner do TopBlog, no alto, à direita e dê seu voto para nosso Blog. Nós agradecemos.
Você pode gostar também de: Árvore Sagrada do Sertão: Árvore que dá de beber
Paisagismo com plantas nativas: aguçando os sentidos
Paisagismo: A criatividade onde está?
Novo Código Florestal - garantia para o futuro sustentável do Brasil
Apaixone-se pela jardinagem !Enamorémonos de la jardineria!
|