Sendo exclusivamente do Brasil, os campos rupestres compreendem regiões com altitudes superiores a 900 metros, podendo ocorrer a partir de 700 metros em alguns casos. Essas áreas apresentam variações extremas de temperatura e ventos constantes, com dias quentes e noites frias. Também conhecidos como campos de altitude, estão localizados principalmente em Minas Gerais (Parque Nacional da Serra do Cipó, Serra da Calçada e Parque Natural do Caraça), Goiás (Chapada dos Veadeiros e Serra dos Pireneus) e Bahia (Serra de Jacobina, na Chapada Diamantina), sendo Minas Gerais o estado com a maior extensão desse ecossistema.
Historicamente, os campos rupestres foram classificados dentro do bioma Cerrado, uma vez que sua vegetação campestre parecia ser uma variação do Cerrado. Além disso, a presença de espécies comuns entre as duas áreas reforçava a ideia de que os campos não constituíam um bioma distinto. No entanto, evidências recentes sugerem que os campos rupestres possuem características próprias e podem ser considerados um bioma à parte.
Figura 1. Rodovia MG-010 cruzando as montanhas na Serra do Cipó, Minas Gerais.
Arquivo de Augusto Gomes - National Geographic A fitofisionomia dos campos rupestres é herbáceo-arbustiva, com a presença ocasional de arvoretas pouco desenvolvidas, de até 2 metros de altura. A vegetação é complexa e forma micro-relevos, com espécies típicas que se adaptam a afloramentos rochosos. Esses ecossistemas se desenvolvem sobre Neossolos Litólicos ou em frestas dos afloramentos rochosos.
Os solos dos campos rupestres possuem alta acidez, são pobres em nutrientes e, em algumas áreas, como na Chapada Diamantina, têm origem na decomposição de arenitos, quartzitos e itacolomitos. Esses materiais permanecem nas frestas dos afloramentos ou são transportados para regiões mais baixas, formando depósitos de areia quando o relevo permite. Além disso, esses solos apresentam alta capacidade de retenção de água e características típicas, como a presença de formações rochosas.
Apesar do clima árido e do solo pobre, a flora e fauna dos campos rupestres desenvolveram, ao longo de milhares de anos, adaptações que lhes permitem prosperar nessas condições adversas. Essas adaptações envolvem soluções para a escassez de água e a alta acidez do solo.
Figura 2. As flores de Vellozia sp. aparecem após as primeiras tempestades de verão em Minas Gerais.
Arquivo de Augusto Gomes - National Geographic A biodiversidade dos campos rupestres é significativa, variando de uma região para outra. Orquídeas, líquens e inúmeras plantas de alto valor ornamental são comuns, assim como uma fauna diversa que inclui anfíbios, répteis, aves, mamíferos e uma infinidade de insetos.
Mesmo com décadas de pesquisa, a taxa de descoberta de novas espécies nos campos rupestres permanece alta. Entre 2005 e 2014, foram descobertas, em média, 12 novas espécies vegetais e 4 espécies animais por ano. Nesse período, foram catalogadas 118 plantas de 27 famílias e 26 animais vertebrados, de acordo com dados da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A flora dos campos rupestres é marcada por alto endemismo e presença de plantas raras. Muitas espécies possuem características xeromórficas, como folhas pequenas, espessas, coriáceas e, em alguns casos, opostas e cruzadas, formando uma estrutura quadrangular característica.
Projeções baseadas em múltiplas variáveis, incluindo mudanças climáticas, indicam que, em 30 anos, os campos rupestres podem perder cerca de 60,5 mil quilômetros quadrados, ou 73% de sua cobertura total. Até 2070, estima-se que essa perda alcance 82%. Essas alterações impactarão também as comunidades locais, que dependem dos serviços ambientais fornecidos por esses ecossistemas, como o ecoturismo.
Figura 3. Bromélia crescendo em lugar improvável.
Arquivo de Augusto Gomes - National Geographic O professor Geraldo Wilson Fernandes, coordenador do Laboratório de Ecologia Evolutiva e Biodiversidade (Leeb) do ICB, destaca que “a destruição do ambiente está relacionada à falta de cuidados que amenizem os efeitos da exploração de minérios, da construção de estradas e da ausência de entendimento sobre as formas adequadas de restauração das áreas atingidas”.
Ele menciona que projetos do governo de Minas Gerais para construção de milhares de quilômetros de vias envolvem extração de materiais, muitas vezes afetando nascentes e rios. O calcário usado na base do asfalto reage com o alumínio presente no solo, reduzindo sua toxicidade e tornando-o mais propício para a invasão de espécies exóticas, que competem com as nativas e reduzem a biodiversidade local.
Figura 4. Vista da Serra da Calçada, em Minas Gerais.
Arquivo de Augusto Gomes - National Geographic
Pesquisadores enfatizam a necessidade de conscientização da população sobre a importância dos campos rupestres na história de Minas Gerais e no fornecimento de alimentos e água. É fundamental estabelecer um pacto sustentável para o uso dos recursos, limitando a mineração e incentivando a restauração de espécies nativas. Medidas como treinamento de órgãos fiscalizadores e criação de leis específicas também são essenciais para proteger esses ecossistemas.
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