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Qual o papel do paisagismo na proteção da biodiversidade e na erradicação da pobreza

Autor: Samuel D. F. Teixeira - Data: 01/12/2012
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O Paisagismo Ecológico como solução

A União Europeia sendo um dos blocos económicos mais ricos do mundo, no entanto 17% da população não tem capacidade para satisfazer as suas necessidades básicas (fonte: Comissão Europeia).

No resto do mundo populações não tem acesso à água potável, estima-se 25 milhões de refugiados ambientais e de alterações climáticas.

Portugal tem diversos problemas ambientais; erosão costeira, fogos florestais cada vez mais violentos, desertificação em forte crescimento em regiões do interior do país ( Trás-os-Montes e Baixo Alentejo na Bacia do Rio Guadiana) entre outros.

Perante isto, é importante criar uma consciencialização em cada um de nós e um conhecimento profundo nas medidas de ação, que podemos iniciar.

O Paisagismo pode dar uma forte contributo no equilíbrio ecológico e na proteção, o papel do passado foi de cria beleza, nos dias de hoje o Paisagismo no modelo na criação de paisagens tem de ser mais de acordo com os ecossistemas locais.
Se reparar-mos um resort de férias no Algarve com 1 hotel, várias vivendas e os seus jardins, campo de golfe á beira mar, mas se ver-mos o mesmo cenário na Califórnia, apostaria, se uma agência de viagens lhe apresentar duas fotos sem legendas, você não saberia identificar de onde seriam, porquê?; é simples porque ambos tem a mesma arquitectura e paisagismo; alguém chamou de macdonalinização do habitat padronizados, as mesma plantas, as mesmas pérgolas, os mesmo vasos; o que isto contribui para um desenvolvimento sustentável, nada.
Já William Robinson em 1866 escreveu acerca dos jardins vitorianos: tudo isto é uma falsa e hedionda arte
e como hoje se mantém atua.

Como o paisagismo pode contribuir para biodiversidade, nós já reparamos que quase todos os jardins tem roseiras e por vezes deparamos que são atacadas por uma praga (os afídeo)s, fica-se logo alarmado com isso, e pedimos ao técnico que escolha o melhor pesticida para os destruir. Mas podemos mudar de hábito, trazendo vida para o jardim; com isto não significa que um espaço verde seja uma mini-amazónia, em que mal podemos entrar, mas também não é uma extensão da sala de estar no exterior, em vez de móveis bem arrumados, temos plantas bem aparadas, sem uma folha seca, mas também sem uma borboleta.

Então 10 medidas de biodiversidade para o Paisagismo, são medidas abrangentes que podem ajudar a tornar um espaço verde ecológico, trazendo benefício dos insetos e de animais. E que alguns trazem poupanças em tempo e recursos tão importantes nos dias de hoje .

1. Plantas com bastantes flores




As flores são importantes para fornecer pólen e néctar para as abelhas borboletas e outros insetos, pois sem eles a maioria dos nossos alimentos não existia e a humanidade não passava de um projeto falhado. Pois os polinizadores são a chave da cadeia alimentar.
E muitos insetos auxiliares no combate as pragas, quando adultos alimentam-se exclusivamente de pólen e néctar (por exemplo do Género Orius ) em que as larvas devoram psilas, afideos, ácaros, entre outros.

Escolher plantas que providenciem pólen e néctar alongo de uma estação ou no ano inteiro, tendo o cuidado de escolher plantas nativas pois elas fornecem o alimento certo, mas também algumas exóticas, tendo o cuidado de não escolher plantas híbridas F1 muito cruzadas, ou variedades criadas em laboratório com flores duplas.

2. Desenvolver uma consociação de árvores e de arbustos




As árvores, os arbustos nativas, ou uma mistura de várias espécies de sebes fornecem abrigo e comidas aos animais. Estudos têm vindo a demonstrar que as árvores abrigam uma enorme diversidade de espécies de fauna (por exemplo os sobreiros albergam cerca 140 insetos, 12 anfíbios, 13 répteis, 73 aves, 23 mamíferos) (fonte: WWF).

As árvores garantem tanto alimentos na forma de flores, frutos, e sementes, assim como o local para nidificação de aves, como para os insetos. Arbustos fornecem alimentos, como azevinho, amoreiras, groselheira, mirtilos, madressilvas, árvores de fruto como romãzeiras, figueiras, aveleiras, amendoeiras, não só suporta a vida selvagem, como fornece frutos aos humanos.

3. O olhar mais atento aos pequenos bosques no seu bairro

Por vezes nós temos nas redondeza dos bairros onde habitamos, pequenas florestas degradadas que pertencem a privados ou ao estado, se os devidos proprietários não tem condições para os manter; organizem uma comissão de moradores, angariem fundos, voluntários, falem com especialistas na área de recuperação paisagística, e metam as mãos à obra.

A importância desses espaços é vital na preservação da fauna e também da flora, como a fauna não respeita fronteiras das propriedades; pois esse é o grande desígnio da democracia natural ; e assim ao criarmos uma rede de ligação entre os jardins e essas áreas verdes, estamos a criar biodiversidade.

4. Criar um upgrade aquático




As coisas simples são as mais belas para a Natureza, por vezes pensamos que criar um lago com água corrente numa cascata e com uma plantas frondosas nas margens e belos nenúfares no meio do lago, certo é romântico, mas cada casa não é um castelo com a princesa e o cavaleiro.
Um simples charco pequeno com plantas aquáticas, uma pedras de voltas das margens com uma ligeira inclinação; vai reparar na vida selvagem que estabelece, pequenos mamíferos, aves, para beber água no verão, anfíbios, pequeno répteis (salamandras), insetos (libélulas), plantas espontâneas aparecem para colonizar o espaço.

5. Deixar um lugar sombrio, com uma pilha de pedaços de madeira




Um monte de madeira, se reparar-mos alberga grande quantidade de vida silvestre, desde de fungos, insetos, animais; este tipo de habitat está tornar-se cada vez mais raro, pois são lugares ideais de hibernação a animais e a insetos. Qualquer tipo de madeira serve mesmo que esteja pintada ou envernizada, mas o melhor são os troncos naturais, que podem ser dispostos artisticamente em (logpiles), dando um olhar bastante arquitectónico e rústico; embora as pessoas prefiram esconder longe da vista.

6. Composto

O composto ajuda a fornecer matéria orgânica para os canteiros de plantas, como também para a vida selvagem. Para além de manter vivos localmente uma série de organismos decompositores, como os saprófitos e em especial fungos e batérias do solo.

Ainda com a vantagem de obter nutrientes de forma gratuita e fácil de produzir, e ainda contribuindo para o sequestro de carbono localmente dispensando a compra de sacos de composto, o combustível envolvido no transporte, para além de diminuir o volume de lixo que as embalagens incorporam localmente.

A pilha ou meda de composto como liberta calor serve de hibernação para animais como pequenos répteis, entre outros.

7. Dar alimentos e água às aves durante todo o ano




Fornecer adicionalmente alimentos a aves especial nas épocas do ano mais críticas em alimentos selvagens, pode significar a vida ou a morte de muitas aves; mas com o cuidado de fornecer de forma moderada, pois tendem a ter o vício de obter alimentos fáceis alterando o seu estado selvagem.

Ideal é oferecer uma mistura de alimentos de vários tipos de sementes, amendoins, alguns vegetais, frutas de bagas e pequenos pedaços de várias frutas.

Colocar água em recipientes rasos pois aves para além de beber, gostam de se banhar. Todos estes recipientes estejam numa altura segura para que os animais domésticos, não ganhem apetite em especial os gatos.

8. Não seja tão arrumadinho com o jardim, deixe algumas áreas num caos


Com isto não significa que o seu jardim se transforme de numa mini-amazónia, que seja preciso para entrar em casa de uma catana para abrir caminho, mas escolha locais, onde possa deixar pequenos montículos de folhas secas caídas das árvores; uma árvore de fruto deixe cair os frutos maduros no solo; isto vai atrair pequenos roedores, e com eles predadores, fornece abrigo a insetos e a animais, são locais onde os animais hibernam como os ouriços. Fazer pequenos montes de pedras ajuda como habitat para muitos animais. Pode escolher lugares como recantos escondidos, ou atrás da casa das ferramentas, garagem etc.

9. Crie manchas de relva com maior altura


O ideal seria criar canteiros de plantas silvestres, mas se não tiver espaço ou não quiser, opte por criar zonas de relvado em que em que a relva fique de maior altura nos recantos mais discretos ou não, por vezes o efeito de contrates de alturas pode ser interessante, por exemplo os suíço gostam deste tipo de contraste nos relvados. Com a relva numa altura maior dá abrigo a muitos mamíferos, e proteção contra predadores a muitas aves que nidificam no solo, e alimentos em especial a muitas lagartas de borboletas.

10 Um jardim sustentável é uma ajuda à proteção da vida selvagem

A sustentabilidade neste momento é uma palavra-buzz na internet, procurada em muitas línguas, a sustentabilidade tem um significado tão simples que é minimizar o uso dos recursos não renováveis (petróleo), e optar por energia renovável (painéis solares, mini torres eólicas) hoje a tecnologia permite que uma casa seja auto suficiente energéticamente, usar racionalmente a água (opte por aproveitar a água da chuva que caí no telhado da sua casa).
Não use pesticidas e herbicidas tóxicos, não use madeira proveniente de florestas virgens, recicle madeira (pallets) para fazer móveis exteriores e caminhos, não use vernizes sintéticos nas madeiras, aproveite os materiais localmente (como pedras para fazer taludes de sustentação, troncos, etc.) recicle o mais que puder e vá até onde conseguir.
Hoje há dezenas de empresas, de especialistas, de tecnologia, de métodos, de ideias, de projetos, de informação na internet de forma livre; não há qualquer desculpa em especial por parte dos Paisagistas para afirmarem que não há outro caminho no contributo para um futuro feliz para as próximas gerações. Pois alguém no futuro vai culpa-lo porque o meu avó não fez isto.

Samuel D.F. Teixeira
Página Facebook http://www.facebook.com/ecoglobal.paisagem?fref=ts


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Comentários

09/12/2012 20:14:40

O artigo publicado pelo Samuel D.F. Texeira abre caminho para uma nova discursão da questão ambiental do Brasil. Quando não houver mudanças no modelo de desenvolvimento com a utilização novas tecnologias e os interesses estiver acima da elaboração e aplicação da lei não havera preservação do meio ambiente esperado como forma de melhoria de qualidade de vida. Devemos primeiro aprender rápido a respeitar todas as formas de vida do planeta como integrantes da complexidade do bioma. O paisagismo é uma alternativa viável que questiona e integra o homem a natureza e o Divino.

06/12/2012 12:41:43

Sim Samuel. Não podemos jamais desvincular todo esse processo sem a atuação ativa de arquitetos urbanistas e paisagistas, pois que agem diretamente na ocupação do solo, tanto como formuladores de leis - uso e ocupação do solo etc, como também nos de projetos arquitetônico e da paisagem. Tratar todo o desenvolvimento de um país somente com olhos e no âmbito econômico é uma catástrofe que estamos assistindo. Muito bom conversar com você. ótimo. Agradeço muito a este site que possibilita isso. Um abraço e muito obrigada pela colaboração com seu artigo, sério, equilibrado e necessário. Nada supérfluo.

05/12/2012 19:19:24

Muito obrigada pelas suas palavras, e votos de muito sucesso para sua tese. Concordo consigo é necessário haver um debate responsável e isento.
O conhecimento dos ecossitemas ai tem um longo caminho pela frente, e na preceção do Paisagismo como modelo construtor de paisagens humanizadas tem que se alterar, pois o paradigma energético e ambiental esta a modificar-se para situações catastróficas e mais violentas e o Paisagismo tem que ter um papel no futuro na minimização desses impactes ambientais, ocorridos no passado e mais dramáticamente no presente.

04/12/2012 19:51:36

Finalmente alguém falando o que venho falando há anos. Não são somente nos campos de golfe de diferentes países que não notaríamos o local, sei bem disso, pois que há mais de 15 anos trabalhando num condomínio dessa natureza, me faz comprovar que há muito desconhecimento em espécies nativas que possibilitem as mesmas dificuldades que o esporte em questão exige. Não notaríamos também, a diferença, por exemplo, em jardins residenciais contemporâneos, tema de muitos artigos dessa arquiteta. Alguns artigos até polêmicos, conscientizando o não incentivo ao consumo de determinadas espécies que estão ocupando território nacional em nome de um benefício, mas que sabemos todos que não o é. Nesse caso a escala de plantio e de ocupação é quase irreversível. E poderíamos falar muito sobre questões nesse tama e temas consequentes desse.
Sei que estou certa no que falo por experiência vivida diariamente, tanto que o título dessa matéria é um dos objetivos da minha tese de pós-graduação. Estou feliz que mais uma voz escrita, encontra-se com a minha e com a de outros. Parabéns Samuel Teixeira, sem radicalismos mas com muita responsabilidade poderemos ver que muitas espécies da fauna brasileira, já tão explorada indevidamente desde o seu "descobrimento" , ainda possuem a flora local para sobreviverem. E vice-versa.
Ida Terron
arquiteta e urbanista


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