Não só no Reino Animal, humanos incluídos, existe esperteza para a realização do impulso vital de reprodução. Nas margens dos rios o sapo, a rã e a perereca machos enchem os sacos vocais e coaxam atraindo a fêmea (ritual pré-nupcial).
Para conquistar a amada ambos albatrozes se encaram e curvam-se como se estivessem cumprimentando e depois ficam de cabeças coladas.
A maioria dos tetrazes gritam e dançam.
Os galos-silvestres delimitam a área de sedução e dançam juntos até que as fêmeas espectadoras escolham um por um como parceiro sexual.
As fragatas incham o peito vermelho para atrair a companheira.
Esperteza vegetal!
Estudo realizado na Esalq-USP mostra que fenômeno da dormência tem papel importante na astuciosa estratégia de dispersão das plantas que possuem sementes miméticas, preservando-as da deterioração Plantas como o mulungu (Erythrina velutina) - árvore nativa da Mata Atlântica - produzem sementes duras e coloridas muito utilizadas na fabricação de colares e pulseiras.
Além de garantir o sucesso nas feiras de artesanato, as características das chamadas sementes miméticas fazem parte de uma complexa estratégia evolutiva de dispersão de sua espécie.
Segundo o estudo, diversas espécies de plantas utilizam a estratégia de atrair animais para auxiliar na dispersão de suas sementes. Em geral, essas plantas possuem frutos carnosos, nutritivos e coloridos que estimulam o animal a comê-los. As sementes não são digeridas e acabam excretadas longe da planta mãe. O grupo de plantas com sementes miméticas, no entanto, vale-se de uma espécie de "estelionato biológico": elas produzem sementes coloridas que ludibriam o animal, atraindo-o sem, no entanto, oferecer nada de nutritivo.
"Essas plantas produzem apenas a semente, cuja dispersão é o que realmente lhes interessa e, com as cores, mimetizam a aparência do fruto. Elas aproveitam o serviço de dispersão oferecido pelo animal, mas não pagam por ele. E com isso economizam muito, pois a produção de frutos verdadeiros - sintetizando grande quantidade de lipídios, proteínas e açúcar - tem um preço muito elevado em termos de energia", disse Brancalion à Agência Fapesp. O "golpe" aplicado pelas plantas de sementes miméticas, no entanto, não é perfeito. Normalmente as aves - principais agentes de dispersão - percebem o engodo e, aos poucos, deixam de consumir as sementes miméticas. Para seduzir as aves "inexperientes" as sementes precisam ficar expostas por longo tempo, até mesmo 3 anos. Para tanto as sementes precisam se manter vivas e esse tipo de planta vive de preferência em ambientes quentes e úmidos. Os cientistas pesquisaram, então, como estas sementes conseguiam se livrar de fungos, larvas, insetos e roedores, expostas por tanto tempo à condições ideais para o ataque destes predadores? A resposta descoberta por eles é que estas sementes são altamente tóxicas, têm altas concentrações de alcaloides, capazes de matar um ser humano, com isso elas evitam a predação. Mas e como elas não se deterioram em ambientes tão quentes e úmidos? A principal hipótese levantada pelos pesquisadores da Esalq era que as sementes se protegem da deterioração fisiológica por meio da dormência física - um fenômeno bastante comum entre espécies arbóreas, caracterizado pelo atraso da germinação provocado pela dureza do tegumento da semente, que impede a absorção de água. Em experiências realizadas com sementes de Erytrina, testadas em laboratórios à temperaturas de 41 graus e alta concentração de umidade, verificou-se que as sementes que se mantiveram íntegras, sem superar a dormência, germinaram normalmente depois do tratamento. Já as sementes desprovidas de dormência foram deterioradas. E as aves, as mais" jovens e inocentes", continuarão seduzidas pelas sementes coloridas, cumprindo seu papel de reprodutoras das espécies "espertas"!
Fontes: Agência Fapesp O artigo Dormancy as exaptation to protect mimetic seeds against deterioration before dispersal (doi:10.1093/aob/mcq068), de Pedro Brancalion e outros, pode ser lido por assinantes da Annals of Botany em http://aob.oxfordjournals.org/cgi/content/abstract/mcq068.
Fonte das fotos:www.macrofotografia.com.br/ http://xiquexiquense.blogspot.com/2010/04/fotos-dos-amantes-casal-de-sapos.html www.wikiaves.com/albatroz-de-sobrancelha http://www.indiosonline.org.br/blogs/media/users/nhenety/sem-mulungu-web.jpg http://www.naturephoto-cz.eu/fragata-comum-pic-2483.html
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