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Paisagismo: Modismos, Amadorismo, Expectativas

Autor: Liane Martins - MC3 Paisagismo - Data: 18/12/2010
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Atualmente nos deparamos com um panorama, no mínimo, intrigante em relação ao paisagismo que, em primeiro lugar, é confundido com a jardinagem, em segundo lugar, pela ausência de regulamentação da profissão em relação à formação profissional necessária para exercício da atividade. São muitos os profissionais que atuam na área, arquitetos, designers, biólogos, botânicos, engenheiros agrônomos, até mesmo aqueles autodidatas que, apesar de não possuírem formação específica, ganharam respeito e espaço no mercado realizando trabalhos interessantes. Em contrapartida, outros meramente curiosos que foram excluídos deste mesmo mercado em razão da precária prestação de serviços, seja na composição estética, na equivocada escolha de espécies, na ausência de acompanhamento e cuidado com o cliente, ou ainda, falta de conhecimento e experiência para realização do trabalho.

Como minha formação profissional é na arquitetura, considero que o paisagismo é uma arquitetura da paisagem, portanto uma extensão da arquitetura e que o paisagista deva ser o "Arquiteto paisagista", que teve sua formação ampliada além do estudo das plantas, da botânica, da agronomia ou afins, mas pela própria concepção de projeto, de arquitetura ou de paisagismo, seus detalhes técnicos e descritivos, a visão ampliada pelo estudo das formas, das cores, da composição estética e da leitura espacial, da preservação do meio ambiente natural e construído, do planejamento urbano, dos sistemas de lazer e recreação, enfim, da visão geral da arquitetura da paisagem e do planejamento espacial.

O amadorismo nos traz a simplificação dos projetos de paisagismo que na verdade não podem então ser chamados de projetos, são por vezes desenhos, fotomontagens ou sugestões de elementos pesquisados na Web, vindos de uma particular inspiração ou baseados em trabalhos de outros profissionais, infelizmente.
Na verdade, no mercado crescente do paisagismo contemporâneo uma coisa é fato: o diferencial está, além da formação e embasamento do profissional, na prestação de serviço. O cliente vem em primeiríssimo lugar e se não tivermos condições de atendê-lo a contento, é melhor declinar do trabalho.

O serviço prestado com eficiência, com atenção, fideliza o cliente. Certamente enfrentaremos dificuldades como em qualquer outro trabalho, profissão ou área profissional, principalmente porque o paisagista trabalha com seres vivos que, por vezes, tem um comportamento inesperado. Por vezes indicamos a espécie adequada para o local, seja sombra, ou seja, sol, seja o solo diferenciado, tendo por resposta o perecimento da espécie por não se adaptar adequadamente ou por problemas no pré ou pós-plantio, enfim, são tantas as interferências que podem ocorrer... o mais importante é o acompanhamento atento dos profissionais envolvidos e a resposta imediata com a verdade ao cliente.

O assunto em pauta atualmente é a conscientização de nossa interferência no planeta, o aquecimento global, a necessidade de preservação e cuidado com a natureza. Com o crescimento da população e a verticalização crescente das metrópoles, a busca de espaços verdes se faz premente, mesmo que em locais reduzidos. Afinal o que impede um vaso com uma linda folhagem em uma pequena varanda, seja no chão ou na parede? A presença das plantas transforma o espaço, nos traz aconchego, reaprendemos a observar a cor, a textura, o aroma, a vida em todas as suas fases.


Quem não passou pela experiência da aula de ciências da escola, do plantio do grão de feijão no copinho com algodão para observar seu crescimento dia-a-dia. Cuidar de uma planta não é diferente de cuidar de um animal, apesar de suas exigências serem menores e elas não clamarem por atenção com miados e latidos, demonstram suas necessidades diariamente, pelo tom das cores, brilho das folhas, o florescer dos galhos, frutos e flores.

O paisagismo atualmente nos apresenta um panorama que por vezes decepciona, pois nos deparamos com jardins padronizados pela repetição constante de algumas espécies e desenhos. Como qualquer atividade, sofremos as contingências da época e das modificações que se dão através dos anos, já que algumas espécies ornamentais são substituídas por outras. Como no mundo da moda e da decoração, no paisagismo também vivenciamos a ocorrência de ciclos e modismos. Mesmo os produtores acabam por se organizar para satisfazer as demandas das espécies mais conhecidas e consagradas pelo uso, impossibilitando o profissional de paisagismo de empregar espécies que não são muito conhecidas ou usualmente utilizadas, lamentável mediante a infindável variedade existente.

Absolutamente nada contra jardins generosos, com várias plantas de diferentes espécies, mas atualmente meu olhar se volta para um paisagismo objetivo, sem tantos elementos e texturas misturadas, numa linguagem mais contemporânea, "clean", buscando uma composição equilibrada que prioriza o ornamental de cada espécie... a planta como uma escultura no jardim.
Na verdade, o mais importante para o sucesso de um projeto de paisagismo é aliarmos a expectativa do cliente a uma competente configuração dos elementos, com eficiência na execução.

Repetindo uma frase presente em nosso cartão de natal 2010, de autoria de Madre Tereza de Calcutá: "Não devemos permitir que alguém saia de nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz", lembramos que o verde das plantas e a nossa presença dentre elas em um extasiante jardim, nos possibilita essa sensação prazerosa de estarmos felizes.

Liane Martins
Arquiteta paisagista
MC3 arquitetura e paisagismo

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Comentários

01/02/2011 15:53:50

Liane parabéns pelo artigo, mas salvo uma coisa, que nome daremos a uma paisagista que começou há mais de 30 anos, que já posue um nome no mercado,fazendo feiras, exsposições etc... mais que infelizmente não teve a chance de se formar em arquitetura ou agronomia?
Paisagismo para mim, inclue uma serie de temas, inclusive os formandos na area, mais aqueles que se dedicaram a sua vida decorando jardins, seria o nome decoradora de jardins?abraços Martha Corrêa

17/01/2011 17:40:44

Liane Martins, muito bom teu artigo, mas vamos abrir um parênteses na questão de, em que área deveria se encaixar a profissão Paisagista.
Na arquitetura? se o arq. entende de espaço, muitas vezes não sabe de solo, nutrientes e muitos nem de necessidades de algumas espécies. Já vi muita coisa neste sentido....
Na agronomia? se o agr. sabe de nutrientes, solo, pragas, não se sai muito bem em estética...
Na biologia? Na artes plásticas?
Todos terão deficiências em alguma área, pois o Paisagismo é uma profissão multidiciplinar. Teriamos que nos formar em todas estas profissões o que é praticamente impossivel. Concluindo: acho que Paisagista é paisagista, arquiteto é arquiteto, agrônomo é agrônomo. A menos que tiver especialização em todas as áreas ou comprovar que é competente.
Lutemos sim por uma regulamentação, um ensino multidiciplinar, por um curso completo.
Abraços

15/01/2011 10:12:05

Muito bom artigo. A profissão do arquiteto paisagista tem que ser regulamentada para que possamos evoluir e melhorar a qualidade das nossas paisagens. Espero que com o CAU consigamos avanços.

13/01/2011 13:52:56

Liane, você soube se expressar com muita propriedade. Parabéns pelo artigo.

11/01/2011 20:31:57

Prezados Adolfo e Katia, grata pela presença. O importante é reaprendermos a olhar, "enxergando" efetivamente as pessoas, os espaços de convivência, encontrando nossos lugares na integração com a natureza. Abraços

11/01/2011 11:00:11

Excelente artigo. José Lutzenberger sempre dizia "Dialogue com a natureza.". "Conversando" com o local onde implantaremos o jardim, parque, etc., ele, certamente, terá muito a nós dizer.

Adolfo Müller




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