É definida como planta carnívora qualquer espécie vegetal que possui o hábito de capturar insetos e outros animais pequenos a partir de armadilhas engenhosas adquiridas por essas após anos de evolução, como meio de 'complementar sua alimentação' devido à baixa disponibilidade de nutrientes do seu habitat natural.
Figura 1.. Drosera atraindo mosca. Suas gotas colantes se parecem com orvalhos, o que atrai insetos.
Arquivo de Julio Santiago - UFMG A carnivoria pelas plantas foi adquirida independentemente por meio da evolução, cerca de seis vezes, em várias famílias e ordens taxonômicas. Atualmente, existem cerca de 860 espécies de plantas carnívoras no mundo inteiro, constituindo um grupo muito diverso, morfologicamente falando. Só no Brasil existem cerca de 100 espécies dessas plantas, sendo a maioria endêmica de Minas Gerais.
O mecanismo de captura, que, na maioria das vezes, constitui uma folha modificada, é o que atrai atenção para essas espécies, sendo sempre chamativas e, em alguns casos, apresentando cores vibrantes ou aparências exóticas e amedrontadoras. Após a captura, as plantas usam enzimas ou bactérias que irão degradar o alimento, um processo químico semelhante à digestão animal. O produto final desse processo químico geralmente são alguns compostos nitrogenados e sais que serão absorvidos pela planta, suprindo assim a ausência desses compostos devido à condição hostil do seu hábitat.
As plantas carnívoras, terrestres ou aquáticas, possuem uma ecologia semelhante, basicamente. Seu porte pode variar, mas a maioria são herbáceas perenes que possuem menos de 30 centímetros de altura. Existem exceções, como algumas espécies trepadeiras de Nepenthes, que podem atingir vários metros de altura.
Alguns gêneros:
Cephalotus:
Nativas do sudoeste australiano, esse gênero de plantas possui apenas uma espécie, a Cephalotus follicularis, que é encontrado em regiões costeiras que sofrem com o alagamento. Como estratégia de captura, essa espécie possui folhas modificadas que se assemelham a um 'jarro' colorido e do tamanho de um polegar, variando do vermelho alaranjado, marrom e até quase preto. Observando bem, é possível reparar em uma linha de 'dentes' na borda de cada jarro.
Figura 2. Cephalotus follicularis
Arquivo de nairredtail Dionaea:
Esse gênero é natural de pântanos da planície costeira dos Estados Unidos e possui também apenas uma espécie, Dionaea muscipula. Essa espécie é uma das plantas carnívoras mais comercializadas no mundo inteiro, sendo, na maioria das vezes, o que vem na mente das pessoas quando se fala em plantas carnívoras. Essa espécie é uma das poucas que são capazes de realizar movimentos, juntamente com a Drosera sp. e a Dormideira (Mimosa pudica). As folhas de captura da D. muscipula são divididas em dois lóbulos, funcionando como uma mandíbula. Dentro da armadilha, a coloração é vermelha e secreta néctar, o que atrai os insetos. Quando o animal atinge essa região, os pelos sensitivos o detectam e, em fração de segundos, esses dois lóbulos se fecham, aprisionando o animal. Logo após a prisão, são secretadas enzimas digestivas que degradam o inseto.
Figura 3. Vênus Papa-Moscas (Dionaea muscipula) capturando inseto.
Arquivo de ian_loves_nature Drosera:
O gênero Drosera possui mais de 200 espécies, sendo um dos mais diversos. Espécies desse gênero são encontradas em diversos continentes, menos na Antártida. Podemos citar a D. intermedia e D. burmannii como duas das espécies mais famosas desse gênero, de cultivo simples. Elas possuem como mecanismo de captura folhas modificadas, cobertas de tentáculos que secretam mucilagem. O inseto é atraído pelo odor adocicado ou pelo efeito visual produzido por ela e fica preso, sendo digerido logo após.
Figura 4. Orvalhinha (Drosera intermedia)
Arquivo de Bastien Louboutin Genlisea:
Considerado incomum, esse gênero possui cerca de 30 espécies catalogadas até agora, podendo apresentar plantas terrestres e aquáticas. Essas plantas são encontradas em regiões tropicais da África, América Central e América do Sul. A G. violacea e a G. hispidula são exemplos de espécies desse gênero. Elas capturam protozoários e pequenos insetos através de raízes modificadas.
Figura 5. Genlisea violacea
Arquivos de Yoannis Domínguez e william_hoyer Nepenthes:
Assim como a Dionaea, as espécies de Nepenthes são uma das mais famosas pertencentes ao grupo das plantas carnívoras. Até hoje, existem cerca de 150 espécies catalogadas e centenas de híbridos naturais e induzidos. É natural da Indonésia e Ásia Tropical. Sua armadilha de captura é também em forma de 'jarro, que atrai as presas e, em seguida, libera um líquido digestivo que contém enzimas que vão degradar o animal. Algumas espécies são classificadas como detritívoras, pois podem consumir fezes e excrementos de origem animal. Como espécies desse gênero podemos citar a N. graciliflora e a N. maxima.
Figura 6. Nepenthes maxima
Arquivo de leithallb Utricularia:
Conhecido por apresentar espécies aquáticas e terrestres, esse gênero de plantas carnívoras possui cerca de 218 táxons catalogados até hoje. Suas armadilhas são pequenas e transparentes, com válvulas que conseguem capturar e digerir pequenos seres aquáticos através da ação de pelos microscópicos. Uma peculiaridade sobre as espécies desse gênero é que elas não possuem raízes, mas caules ramificados ou estolões (caules de crescimento horizontal). A U. gibba e a U. sandersonii são exemplos de espécies pertencentes a esse gênero.
Figura 7. Utriculária-Menor (Utricularia gibba)
Arquivo de jmole Estima-se que cerca de um quarto das espécies de plantas carnívoras existentes atualmente correm o risco de extinção, de acordo com um estudo publicado no Global Ecology and Conservation, um importante periódico científico. Dentre os fatores que estão contribuindo para essa diminuição dos indivíduos, podemos citar a coleta ilegal na natureza e o desmatamento das áreas naturais de ocorrência dessas espécies, devido à expansão urbana e agrícola.
Esse foi o primeiro exame sistemático em uma escala global a respeito do estado de conservação das plantas carnívoras. A pesquisa ocorreu em uma parceria entre cientistas da Universidade de Curtin e do Jardim Botânico de Victoria, na Austrália; do Herbário de Munique, na Alemanha; e da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), no Brasil.
Os autores do estudo apontam como solução para impedir essa extinção ações urgentes que acabem com o mercado ilegal dessas plantas, assim como a redução da perda de habitat, principalmente nessas regiões que já sofreram muito com o desmatamento e abrangem grande parte da biodiversidade de plantas carnívoras.
Os pesquisadores também apontaram como medidas importantes no combate à extinção a expansão das reservas já existentes e a demarcação de novas áreas a se tornarem protegidas, além de enfatizarem a necessidade do fortalecimento de leis de proteção ambiental, principalmente em áreas que abrigam espécies ameaçadas, como nos Estados Unidos, Indonésia, Filipinas e no Brasil.
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