Quando da criação de Brasília, Burle Marx foi convidado pelos amigos Lucio Costa e Oscar Niemayer a criar aqui algumas de suas maravilhas. O paisagista que fazia arte moderna com matéria-prima viva deixou em Brasília as marcas de sua genialidade. São dele a Praça dos Cristais (no Setor Militar Urbano), a Praça das Fontes (no Parque da Cidade), os jardins externos e internos do Itamaraty, o jardim externo do Palácio da Justiça, o jardim externo do Palácio do Jaburu.
Praça dos Cristais - Brasília
É dele também o projeto de paisagismo da SQS 308 Sul, os jardins do Teatro Nacional e os do Tribunal de Contas da União. Burle Marx está também nas embaixadas da Alemanha, Estados Unidos, Irã e Bélgica.
O detalhamento dos seus projetos era, por si só, uma obra de arte. Além disso, Burle Marx tirou do limbo as espécies nativas que até então eram consideradas só mato. Ninguém pensava em usá-las em jardins. Seu assistente na época, Haruyoshi Ono conta que, durante a execução dos projetos, Burle Marx e ele saíam cerrado afora à procura de espécies nativas que pudessem ser transplantadas para os jardins modernistas.
Uma das mais lembradas operações de transplante de vegetação na cidade foi a que levou os exemplares de Buritis para os jardins do Palácio do Itamaraty, lembra-se Ono. A Praça Cívica, popularmente conhecida como Praça dos Cristais, foi projetada por Roberto Burle Marx. Está localizada em Brasília, no Setor Militar Urbano, tendo sido inaugurada em 1970, após cinco anos de construção.
É um jardim construído na forma de um triângulo de 102 mil metros quadrados. A Praça dos Cristais é assim chamada porque durante a construção, iniciada em 1965, Burle Max e seu assistente Haruyoshi Ono, arquiteto, paisagista e atual diretor responsável pelo escritório Burle Max & Cia Ltda, ao realizarem uma viagem a Cristalina, onde encontraram muitos cristais de rocha. Na oportunidade, Roberto Burle Marx solicitou que Haruyoshi desenhasse as peças existentes hoje, para o espelho dágua principal, representando assim as riquezas existentes no Planalto Central. O resultado é uma magnífica construção de cristais em concreto, bem ao estilo de Oscar Niemeyer.
Localizada em frente ao Quartel General do Exército, no Setor Militar Urbano, a Praça Cívica foi inaugurada em 1970. No projeto, de autoria do arquiteto e paisagista Roberto Burle Marx, há um belo jardim com canteiros em vários planos e um espelho dágua. Da água emergem esculturas de pedra. Elas representam cristais, que simbolizam as riquezas minerais do Planalto Central e da terra brasileira. Por causa dessas esculturas, o local ficou conhecido popularmente como Praça dos Cristais. O projeto foge às características mais marcantes de Burle Marx, que ficou famoso pela criação de espaços ajardinados.
Thritrinax brasiliensis Fonte: wikimedia
O interesse pela flora nacional o tornou ainda mais modernista. "Burle Marx rompeu com o paisagismo tradicional e inaugurou o jardim moderno, com identidade nacional", resume Marisa Lima, paisagista que estudou com o mestre. Roberto Burle Marx é um artista polivalente. Pintor, designer, arquiteto, paisagista, artista plástico, tapeceiro. Nas horas vagas canta música lírica para os amigos. Sua obra como artista plástico é amplamente reconhecida e premiada em mostras e salões internacionais. Pouco a pouco, o nome de Burle Marx paisagista ultrapassa as fronteiras do Brasil.
Mauritia flexuosa Fonte: Wikimedia
Buritis
Sua assinatura brilha em milhares de projetos espalhados pelos cinco continentes. Sua grande paixão, contudo, sempre foi o Brasil, sobretudo o Rio de Janeiro. Nos mais belos cartões postais da cidade estão os jardins de Burle Marx. O Largo da Carioca... a orla do Leme... o calçadão de Copacabana... os jardins suspensos do Outeiro da Glória...e a menina dos olhos do artista: o Aterro do Flamengo. Do trabalho conjunto com Oscar Niemayer e Lúcio Costa nascem o Parque da Pampulha, Minas Gerais, e os famosos jardins de Brasília. Entre suas obras mais expressivas estão os jardins do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Pampulha - Belo Horizonte - MG Fonte: wikimedia
Aterro do Flamengo - Rio de Janeiro Fonte: wikimedia
Em 61 anos de carreira, Burle Marx assina mais de dois mil projetos e recebe inúmeras honrarias. Mas a homenagem que mais o sensibiliza é ver seu nome designando um espécime de Bromélia: "Burle Marxii" - trata-se do Orthophytum Burle Marxii.
Orthophytum Burle Marxii
Fonte: Wikimedia
Em 1972, Burle Marx muda-se para o sítio Santo Antônio da Bica, nos arredores do Rio de Janeiro. Dedica-se à pintura, coleciona obras de arte e cultiva, ao longo de mais de vinte anos, três mil e quinhentas espécies de plantas do mundo inteiro, criando um verdadeiro Éden Tropical. Em 1985, doa a propriedade ao governo federal. Seu grande sonho é criar ali uma escola para jardineiros e botânicos, e abrir o sítio à visitação pública. Mas é somente após a sua morte, ocorrida em 1994, aos 82 anos de idade, que os seus últimos projetos florescem. Graças ao empenho de sua equipe, o sítio, agora batizado com o seu nome, recebe visitantes do Brasil e do mundo. E ecologistas, paisagistas e jardineiros podem freqüentar cursos regulares, ministrados em meio às plantas que o próprio Roberto Burle Marx cultivou.
Rômulo Cavalcanti Braga é paisagista Contato:romulocbraga@uol.com.br
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